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dezembro 7, 2020

O ganhador do Prêmio Nobel de 1970 Paul Samulson foi um dos maiores economistas da segunda metade do século XX. Conhecido pelo público geral especialmente por sua coluna na revista americana Newsweek, onde contrapunha com ninguém menos que Milton Friedman, Samuelson também foi o autor de Economics, que contando todas as suas edições desde os anos 1940 até hoje, é o manual de economia mais vendido de todos os tempos, mesmo tendo perdido espaço recentemete. Embora sua figura seja frequentemente ligada à esquerda, (sem dúvidas, há alguns erros importantes nas versões mais antigas de Economics, como suas frustradas previsões acerca do crescimento do PIB soviético, o que fez o livro inclusive ser alvo dos Macarthistas), a produção acadêmica de Samuelson não se desviou do mainstream que ele ajudou a construir.

A edição mais recente de Economics foi publicada em 2009, ano da morte de Samuelson, e tem como coautor outro gigante, William Nordhaus, também vencedor do Nobel, em 2018. Tal versão começa com uma “proclamação centrista” escrita pelo próprio Samuelson, o que nos permite ao menos pensar se sua fama de esquerdista não seria, na melhor das hipóteses, superestimada. A edição de 2009 de Economics também tem como exemplo em sua crítica ao protecionismo o caso da indústria brasileira de computadores nos anos 80.  Segue abaixo uma tradução da história contada pelos autores:

O Brasil oferece um exemplo notável das armadilhas do protecionismo. Em 1984, o Brasil aprovou uma lei proibindo a importação da maioria dos computadores estrangeiros. A ideia era fornecer um ambiente protegido no qual a própria indústria nascente de computadores do Brasil pudesse se desenvolver. A lei foi rigorosamente aplicada através de uma “polícia de informática” especial, que revistava escritórios e salas de aula em busca de computadores importados ilegalmente.

Os resultados foram estarrecedores. Tecnologicamente, os computadores de fabricação brasileira estavam anos atrás de um mercado global em rápida evolução, e os consumidores pagavam 2 ou 3 vezes o preço internacional - quando podiam comprá-los. Ao mesmo tempo, como os computadores brasileiros eram muito caros, eles não conseguiam competir no mercado internacional, de modo que as empresas brasileiras de computadores não podiam aproveitar as economias de escala vendendo para outros países. O alto preço dos computadores também prejudicou a competitividade do restante da economia. “Estamos efetivamente muito atrasados ​​por causa desse nacionalismo sem sentido”, disse Zélia Cardoso de Mello, ministra da Economia do Brasil em 1990. “O problema do computador bloqueou efetivamente a modernização da indústria brasileira”.

A combinação da pressão dos consumidores e empresas brasileiras com as demandas dos EUA por mercados abertos forçou o Brasil a abandonar a proibição de computadores importados em 1992. Em um ano, as lojas de eletrônicos em São Paulo e no Rio de Janeiro estavam cheias de laptops importados, impressoras a laser, e telefones celulares, e as empresas brasileiras poderiam começar a explorar a revolução do computador. Cada país e cada geração aprende novamente as lições da vantagem comparativa.

N.T.: há uma versão oficial de Economics lançada no Brasil pela McGraw-Hill. A tradução dessa versão pode ser diferente da deste texto.

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One comment on “A trágica proteção da indústria brasileira de computadores – por Paul Samuelson e William Nordhaus.”

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