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setembro 28, 2020

O liberal brasileiro médio é tão tapado que entende qualquer crítica à desigualdade brasileira como defesa de um generoso estado de bem-estar, como se admitir que a disparidade de renda encontrada aqui não é normal implicasse em querer transferir renda de rico pra pobre.

O liberal médio não entende que uma economia de mercado saudável, com estado de bem-estar ou sem, não produz o nível de desigualdade encontrado no Brasil. Ele não entende que uma crítica à desigualdade brasileira também é uma crítica ao Estado brasileiro.

Enquanto todos os países ocidentais ricos já tinham sistemas de ensino básico universais no século XIX, o Brasil deixava mais da metade das crianças fora da escola em plena década de 60. Enquanto os países que deram certo mantinham suas inflações sob controle, criávamos aqui mais de meio século de inflação alta. Isso pra não falar da demora pra abolir a escravidão, da falta de reforma agrária (que era muito mais viável no século XIX ou início do século XX do que hoje), da concentração de renda gerada diretamente pelo setor público e etc.

O Estado brasileiro errou durante todo este tempo e ainda erra, seja por ação ou por omissão. Admitir tudo isso não significa querer “medidas compensatórias” ou achar que “vale tudo para combater a desigualdade”, mesmo que seja empobrecendo todo mundo através de políticas populistas. Significa somente entender o porquê de sermos um ponto fora da curva neste quesito para não errarmos daqui pra frente.

Qualquer país com uma educação de base decente e bem distribuída é muito menos desigual que o Brasil, tendo estado de bem-estar ou não. Os coreanos pagam menos impostos que nós, têm muito menos estado de bem-estar que nós (gasto como fração do PIB), mas são muito menos desiguais. Mesmo invocando alguma teoria racialista pra dizer que eles “são mais homogêneos”, você não vai conseguir convencer ninguém de que isso se deve à natural diferença entre os indivíduos (como deveria ser). O fato é que eles fizeram o dever de casa, nós não.

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