No final de setembro de 2022, Cuba finalmente legalizou, por meio de um referendo, o casamento de pessoas do mesmo sexo. A notícia veio com certo espanto, tanto para críticos quanto para apologistas do regime. Como pode o bastião do socialismo nas Américas ter legalizado um direito básico tão depois da esmagadora maioria das democracias liberais ocidentais? Se estudarmos a história do tratamento de minorias na ilha caribenha, contudo, a surpresa desaparece.
A militante LGBT e socialista Sherry Wolf, contudo, fornece em seu livro Sexualidade e Socialismo, publicado no Brasil pela editora Autonomia Literária, uma análise honesta dos horrores que a comunidade da qual faz parte enfrentou e enfrenta no feudo-prisão de propriedade dos Castro.
Há o que se questionar do ponto de vista liberal de sua análise: para ela, Cuba não aparenta ser, de fato, um regime socialista, mas sim uma ditadura em que o governo apenas tomou o papel do estado e da burguesia na opressão dos trabalhadores. Por outro lado, para muitos liberais, ditadura e opressão são resultados naturais do socialismo, mesmo quando implantado com boas intenções, e o lamentável estado no qual viveram os LGBTs cubanos por mais de meio século são perfeitamente compatíveis com este regime político e econômico. Não obstante, a análise de Wolf é, no geral, muito factual, e oferece uma dissidência importante num ponto que a esquerda possui muita dificuldade de lidar: o experimento cubano fracassou sob qualquer ótica e defendê-lo é um erro não só teórico, mas também estratégico.
A seguir, traduzimos um trecho da obra de Wolf.