Hoje tenho o orgulho de lançar meu último artigo para o Niskanen Center, “The Free-Market Welfare State: Preserving dynamism in a volatile world”. Você pode encontrá-lo aqui.
O artigo propõe um conjunto de princípios para uma agenda de pesquisa e reforma do que chamo de “Estado de bem-estar de livre mercado”, baseado em uma tese simples, mas provocativa: a histórica combinação americana de livre mercado com uma limitada segurança de renda é fundamentalmente instável. Ou nos tornamos melhores em complementar os mercados com maior apoios ao reemprego e complementação de renda, ou as forças da destruição criativa gerarão reações antimercado com consequências políticas duradouras.
“As consequências da entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001 são um exemplo claro. Importações mais baratas beneficiaram milhões de americanos por meio de preços mais baixos ao consumidor. Ao mesmo tempo, a concorrência das importações chinesas destruiu quase dois milhões de empregos na manufatura e serviços associados — um caso clássico de destruição criativa. No entanto, em vez de ajudar esses trabalhadores a se ajustarem, nosso sistema de seguridade social os deixou definhando. Nas regiões dos Estados Unidos mais expostas à concorrência de importações, o Seguro de Incapacidade da Seguridade Social (SSDI) foi duas vezes mais responsivo ao choque econômico do que o seguro-desemprego e a Assistência ao Ajuste Comercial (TAA) combinados, embora o primeiro programa seja um dos mais restritivos programas de apoio a pessoa com deficiência no mundo desenvolvido. De fato, embora os críticos do Estado de bem-estar muitas vezes argumentem que os Estados Unidos gastam um trilhão de dólares por ano em programas sociais, apenas cerca de um quarto disso se aproxima de algo parecido com dinheiro ou quase-dinheiro para complemento à renda – aproximadamente a mesma quantia anual é gasta subsidiando o seguro de saúde do empregador."
Eu ilustro as lacunas em nosso sistema de seguridade de renda com uma métrica de “adequação de renda” do banco de dados de gastos sociais da OCDE – em essência, a renda mínima pós-transferências de um país:

Por que essa lacuna é importante? Por meio de um mergulho na economia política do Estado de bem-estar social, argumento que as democracias tendem a responder à insegurança econômica de duas maneiras: ou o excedente cooperativo de uma economia produtiva e em crescimento é usado para estimular os trabalhadores em transição ou os políticos são tentados a intervir no próprio mercado por meio de regulações reativas. Considere o montante crescentes de pesquisas mostrando que o choque da China alimentou um crescimento subsequente no sentimento anti-comércio o qual, por sua vez, contribuiu diretamente para o aumento da polarização política, ajudou os nativistas a vencer a eleição para o Congresso e colocou vento nas costas dos candidatos presidenciais populistas. Em resumo, na ausência de sistemas robustos de seguridade social, mesmo choques econômicos pontuais podem ter consequências político-econômicas duradouras.
Isso pode ser demonstrado internacionalmente, plotando a métrica de adequação de renda da OCDE em relação ao índice de liberdade econômica da Heritage Foundation (modificado para remover seus componentes de “tamanho do governo”). A forte relação positiva entre segurança de renda e liberdade econômica aparece imediatamente:

Para ilustrar o dilema criado pela incompatibilidade entre a afiliação ideológica e os resultados político-econômicos reais, proponho um modelo multi-eixo de ideologia política que faz uma distinção explícita entre seguridade social leve e intervenções pesadas no mercado:

O espectro ideológico tradicional corre diagonalmente do quadrante inferior direito, “libertário” ou antigovernamental (pró-mercado, anti-transferência), ao quadrante superior esquerdo, “social-democrata” ou quadrante pró-governo (antimercado, pró- transferir). Ortogonal ao espectro tradicional estão os quadrantes do “populismo reacionário” e do “Estado de bem-estar social de livre mercado”. Como outras variedades de liberalismo, o sucesso dos Estados de bem-estar de livre mercado é liminar, existindo na fronteira de visões de mundo conflitantes.
Assim, embora a história não seja predeterminada, o modelo multi-eixo sugere que o atual equilíbrio dos EUA é instável. A liberdade econômica medida nos Estados Unidos tem diminuído lentamente nos últimos anos e, com o comércio e a tecnologia futuros no horizonte, existe o risco de que a tendência acelere em direção ao quadrante reacionário-populista. O artigo, portanto, propõe uma metodologia para pensar uma agenda de pesquisa e de reforma de “Estado de bem-estar social de livre mercado”, baseada em quatro princípios de design:
- Promover a tomada de riscos produtivos e o empreendedorismo;
- Aliviar os custos de ajuste dos choques comerciais e tecnológicos;
- Portabilidade de benefícios e neutralidade à estrutura de mercado;
- Robustez à imigração.
Aplicar esses princípios de “boa fé” exigirá que os defensores do livre mercado transcendam a política de austeridade. De fato, um Estado de bem-estar mais universal, longe de estar em desacordo com a inovação e a liberdade econômica, pode acabar sendo seu garantidor final.
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Autor: Samuel Hammond.
Tradutor: Alexandre Conchon.
Revisor: Fernando Moreno.
Publicado originalmente Maio de 2018 aqui.

Tem 21 anos e estuda economia. Também é músico, escreve e é apaixonado por artes em geral.