O que causa o progresso?
Estou investigando isso há cinco anos e ainda não tenho uma resposta completa. Mas parte do quadro geral está começando a ficar mais nítido. Aqui está meu modelo atual e incompleto:
O progresso se retroalimenta. Ele é construído sobre si mesmo. Progresso gera mais progresso. É por isso que o progresso é superlinear: exponencial, ou mesmo, por longos períodos, até superexponencial.
A forma que isso toma é através de uma série de loops de feedback, ou ciclos de auto-reforço. Pela natureza de tais loops, eles agem como se tivessem inércia: são difíceis de começar, mas difíceis de parar, uma vez iniciados. Daí um volante de inércia*: a metáfora perfeita para um loop ou ciclo com muita inércia.
*Nota do tradutor: peça de engenharia mecânica em forma de disco que gira em grande velocidade, armazenando energia durante o processo. Na roda, quanto maior a velocidade e menor o atrito, mais energia armazenada.
Existem vários deles, em vários níveis, sobrepostos e todos operando simultaneamente.
Aqui estão alguns que eu pude notar:
- Tecnologia: Algumas tecnologias são fundamentais, possibilitando muitas outras tecnologias. A usinagem de precisão CNC permite a invenção de muitos outros tipos de máquinas. Novos motores e fontes de energia fazem o mesmo. A tecnologia da informação acelera a disseminação de ideias e facilita a colaboração das pessoas. Muitas tecnologias se habilitam: usamos máquinas-ferramentas para fazer outras máquinas, queimamos petróleo para perfurar e transportar mais petróleo, projetamos novos computadores em outros computadores.
- Riqueza: Algum nível de riqueza excedente é necessário para financiar pesquisa e desenvolvimento. Quando metade da força de trabalho tinha que ser composta por agricultores apenas para alimentar a outra metade, o excedente simplesmente não existia. No Renascimento, a ciência era financiada por patronos ricos. À medida que o excedente se acumula, temos mais para investir em experimentação, invenção e novos negócios; e o progresso nessas áreas aumenta nossa produtividade, o que nos dá ainda mais excedente de riqueza.
- Ciência: A ciência possibilita tecnologia avançada: o eletromagnetismo permitiu tanto a energia elétrica quanto as comunicações eletrônicas; a química aplicada criou tudo que vai do plástico ao processo Haber-Bosch; a microbiologia nos deu saneamento, vacinas e antibióticos. E o progresso tecnológico e econômico, por sua vez, permite o progresso científico, tanto criando riqueza excedente para financiá-lo (como no ponto anterior) quanto criando novos instrumentos e técnicas científicas, do microscópio e do termômetro ao Grande Colisor de Hádrons, Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro Laser e o Telescópio Espacial James Webb.
- Mercados: A tecnologia de transporte e comunicação globalizou mercados que costumavam ser estritamente locais. Mercados maiores suportam mais bens e mais tipos de bens. Os produtos que exigem fabricação especializada precisam de mercados grandes o suficiente para recuperar esse investimento; você não pode financiar a fábrica necessária para construir colheitadeira, debulhadora ou ceifeira se estiver vendendo apenas para os agricultores da sua aldeia local.
- Governo: O progresso foi possibilitado em parte por reformas na legislação e no governo, como a dissolução do sistema de guildas ou o desenvolvimento do direito societário. As nações que têm melhor suporte legal para o progresso tornam-se mais ricas e, portanto, mais fortes militarmente e, portanto, capazes de se defender, e seu exemplo inspirou outras nações a reformar seus próprios governos e leis (como a Índia e a China fizeram nas últimas décadas).
- População: Mantidas inalteradas todas as outras coisas, quanto mais pessoas estiverem tentando impulsionar o progresso, mais rápido ele virá. Por muito tempo, o progresso também levou a uma população maior. Melhorias na agricultura aumentaram a capacidade produtiva da terra, levando a maiores densidades populacionais. No século 18, melhorias no saneamento estavam diminuindo as taxas de mortalidade, e mais crianças estavam sobrevivendo até a idade adulta. Mas esse ciclo pode ter mudado de auto-reforço para auto-redução (em termos de engenharia, de feedback “positivo” para “negativo”): no século 20, tecnologia, riqueza e educação também reduziram as taxas de fertilidade. Agora, as taxas globais de fertilidade estão caindo, o crescimento da população mundial está diminuindo e, de fato, a população mundial total deve se estabilizar ou até começar a diminuir neste século. Isso pode vir a ser um fator limitante significativo do progresso.
- Filosofia: Quanto mais progredimos, mais as pessoas acreditam que ele é possível e desejável, e mais se esforçam, o que gera mais progresso. É o que se verifica com alguns exemplos do século XV, como as viagens do descobrimento, a bússola, a pólvora e a imprensa, que inspiraram Bacon e seus contemporâneos a clamar por mais esforços em ciência e tecnologia. No século 19, investimentos de longo prazo em progresso, como a fundação do MIT ou Johns Hopkins Institute, foram explicitamente motivados por uma crença no progresso; a mesma crença explícita foi a justificativa para o apelo de Vannevar Bush ao investimento em pesquisa básica. (No entanto, esse ciclo de feedback também pode ter se invertido: a sociedade ficou mais cética e desconfiada em relação ao progresso no final do século 20, e acho que não é coincidência que o progresso tenha desacelerado; inversamente, quanto menos as pessoas vêem suas vidas e seu mundo melhorando, menos elas podem ter uma visão positiva do futuro).
Em geral, a forma de uma variável que cresce proporcionalmente ao seu tamanho é uma curva exponencial. Se uma economia investe uma porcentagem constante de seus recursos em crescimento a cada ano e esses investimentos têm um retorno constante ao longo do tempo, essa economia crescerá exponencialmente a uma taxa constante. Quando vemos um crescimento exponencial do PIB ao longo do tempo, acredito que é isso que está acontecendo.
Mas, ocasionalmente, acontece algo que muda o expoente, nos lançando em um novo modo de produção com crescimento ainda mais rápido. Isso aconteceu com a Revolução Industrial. Suspeito que tenha acontecido com a Revolução Agrícola há cerca de dez mil anos. Talvez até tenha acontecido nos primórdios dos humanos comportamentalmente modernos há mais de cinquenta mil anos.
Assim, no muito longo prazo, o progresso é superexponencial. Não apenas entramos em um novo modo de crescimento mais alto periodicamente, mas levamos menos tempo para fazê-lo a cada mudança fundamental. De fato, a próxima mudança pode acontecer ainda neste século: muitos sugeriram a IA como a condutora dessa mudança ; J. Storrs Hall sugeriu a nanotecnologia.
Sob pelo menos uma análise, o progresso é hiperbólico, e se tornará infinito em algum ponto no futuro, quando atingirmos a singularidade. (Imagina-se que será descoberta alguma fonte de atrito que fará o progresso não exatamente infinito, mas sim insondavelmente rápido).
De qualquer forma, quando perguntamos “o que causa o progresso?”, em algum nível, a resposta é “todos os fatores acima”: tecnologia e ciência, riqueza investida, bons fundamentos jurídicos, ideias filosóficas, etc. Certamente, se você quisesse avançar no progresso, poderia decidir, com sensatez, trabalhar em qualquer uma dessas áreas para fazê-lo.
O que não está claro para mim é: quais são as raízes do progresso? De todos os fatores causais, quais são necessários e quais são suficientes? Joel Mokyr poderia argumentar que era a ciência; Deirdre McCloskey que eram os valores morais; Steven Pinker (ou Ayn Rand) que foi o Iluminismo; Robert Allen que era o carvão.
Como a amplitude das respostas e dos respondentes indica, esse é um problema difícil — ao qual se dedicaram carreiras inteiras e prateleiras cheias de livros; na verdade, talvez seja a maior questão da história econômica. Então não tenho a resposta agora. Talvez em mais cinco anos.
.
Publicado originalmente aqui.
Autoria: Jason Crawford
Tradução: Davi dos Anjos
Revisão: Fernando Moreno

Arte, cidades, liberdade, justiça e progresso