Lendo a última pesquisa eleitoral me deparei com isso: "Se Bolsonaro for candidato a presidente no ano que vem, 22,8% disseram que votariam nele com certeza e 11,6% disseram que poderiam votar nele. Por outro lado, 61,8% disseram que não votariam nele para presidente de jeito nenhum e 0,4% disse não conhecê-lo ou saber quem é."
Sim, 0,4% da população não sabe quem é o presidente.
Confesso que por menos de um segundo os invejei. Até vir imediatamente a reflexão óbvia que esses são os mais desprovidos de nosso país, de educação, de cidadania, de tudo.
Mas minha mente não resistiu a embarcar na brincadeira. Que felicidade seria não saber que Bolsonaro é o presidente? Me imaginei sendo entrevistado:
- O Sr. votaria em Bolsonaro?
- Quem é Bolsonaro?
- O presidente?
- Não, meu presidente é o Temer.
- Sr, esse não é mais o presidente. Você acabou de me dizer também que tem superior completo… o Sr. está se sentindo bem?
- Fazia tempo que não me sentia tão bem! - E suspiro do outro lado da linha com imagens na mente de nosso querido vampirão.

Por qual motivo eu não deveria embarcar nessa autoilusão? Mantemos a crença em várias ilusões úteis para nos sentirmos bem, para nos mantermos civilizados.
Ademais, Bolsonaro tenta destruir tantas destas preciosas autoilusões que nos são tão caras: o respeito às regras do jogo democrático, o bom senso e o decoro esperados de um presidente, etc. Bolsonaro destrói a autoilusão da normalidade, nos coloca em situações mentais que seriam impensáveis no mundo que aprendemos como sendo real. Por exemplo, era totalmente do universo do fantástico a ideia de que minha sogra idosa me perguntaria o que é Golden Shower. Mas Bolsonaro me proporcionou isso.

Ok, não devemos desistir do impeachment. Ou da renúncia. Ou tirarmos ele nas próximas eleições. Mas, se por alguma contingência mais absurda que sua eleição original, o incontinente se reeleger, já torno aqui pública minha decisão: se alguém me perguntar, não sei quem é Bolsonaro. No máximo era um deputado lá do Rio de pouca expressão e que aparecia no Superpop. Desde então, ninguém soube mais de seu paradeiro. O cargo de presidente? Está vago. Como ato final, Michel Temer entregou a gestão do país para a grande Inteligência Artificial. "Torna-la-ei responsável por liderar a Nação", teria dito em seu último pronunciamento.
Qualquer notícia em desacordo é fakenews, taokei?

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