Tenho sido uma ativista queer desde os 17 anos de idade. Cresci numa cidade rural e socialmente conservadora em que as pessoas lançavam xingamentos homofóbicos contra mim de trás das janelas de suas picapes. Meus conflitos com o ódio anti-gay me intimidavam, mas também acendiam dentro de mim uma chama. No meu último ano do High School, decidi ajudar outros adolescentes queer que tinham medo de se assumir ou que tinham sentimentos autodepreciativos. Dei uma palestra apaixonada sobre tolerância numa assembleia da escola, distribuí folhetos nas salas e corredores, e abri um grupo para estudantes LGBTQ e para aliados.
Não muito mais tarde, tive contato com as ideias de Judith Butler, uma mistura ousada e cativante do feminismo de terceira onda com a teoria queer. Vi verdade na perspectiva radical de Butler quanto a gênero, e me senti liberta. O desconforto sentido durante toda minha vida quanto a ser colocada numa caixa - numa categoria de gênero binária - havia sido vingado. Foi aqui que minha paixão pelo feminismo começou de verdade. Coloquei um adesivo no meu carro que dizia “Moças bem comportadas raramente fazem história”. Fiz a assinatura da revista Bitch (“Puta”). Quando chegou o momento de me formar na escola e ir para a (Universidade) McGill, me matriculei com entusiasmo numa disciplina de teoria feminista, assim como numa turma de Estudos de Diversidade Sexual, assunto que mais tarde se tornaria minha minor¹.
A partir dali, meu mundo continuou a se expandir. Em Montreal, tive contato com uma maior diversidade de pessoas e perspectivas do que jamais havia tido. O mesmo tipo de transformação que havia ocorrido em minha mente quanto a gênero ocorreu em relação a raça e deficiência. Aprendi sobre classismo e capitalismo. Na Rad Frosh*, um workshop com o respeitado ativista Jaggi Singh me deu minha primeira introdução verdadeira ao anarquismo. Meu primeiro ano na McGill foi um turbilhão de novas pessoas e novas descobertas/revelações.
*Rad frosh: em tradução literal "calourada radical", uma comemoração de boas vindas para novos alunos da Universidade McGill de Montreal, no Canadá, que conta com diversos eventos e palestras.
No meu segundo ano, mergulhei de cabeça. Me envolvi profundamente com uma diversidade de grupos e organizações variavelmente queer, feministas, em geral anti-opressão e de esquerda radical (a organização “Mob Squad” é um exemplo de muitos). Li livros como “Por que viados têm tanto medo de viados?” e “A insurreição vindoura”. Gritei a plenos pulmões em protestos. Tantos protestos. Marchar pelas ruas e empunhar um cartaz que dizia “Foda-se o capitalismo” se tornou minha forma principal de exercício físico. Era o ano dos protestos contra as taxas das universidades. Havia uma grande animação no ar. Pensei que talvez, talvez, uma revolução pudesse acontecer. Uma garota pode sonhar.
2012 foi o ano em que cheguei ao auge do radicalismo. Coisas que fiz naquele ano incluíram ocupar o edifício de um campus universitário (pela segunda vez), ser revistada por um segurança, ser perseguida por um policial numa cinquentinha, assistir a uma assembleia inteira da SSMU (Associação de Estudantes da Universidade McGill), e correr de granadas de atordoamento lançadas pela polícia. (Eu não chegava nem perto de ser tão radical quanto a maioria das pessoas que eu conhecia. “Adoro como sprays de pimenta melhoram a sinusite”, um deles disse. Alguns participavam de black blocs. Em certo ponto, alguns passaram a noite na cadeia.)
Desde então, minha visão política tem progressivamente crescido, evoluído e se refinado. Não mais anseio por uma revolução. Não odeio o capitalismo ou o Estado como se esses fossem o nome das pessoas que mataram meu cachorro. Meu posicionamento político ainda se inclina para a esquerda, mas não tanto como antes, e agora enxergo sistemas políticos e econômicos com os olhos de um engenheiro, ao invés de vê-los nas cores berrantes da indignação moral. Continuo tão apaixonada pelo ativismo queer e feminista quanto já fui um dia e desejo ser uma aliada de movimentos anti-opressão tanto quanto antes. Sinto que possuo um entendimento mais rico e nuançado de ética e políticas contra opressão do que jamais tive. Guardo todas as lições com as quais aprendi. Sou grata às muitas pessoas que dividiram suas opiniões comigo.
Há algo de sombrio e vagamente fanático nesse tipo específico de política.
Me formo em breve, e tenho refletido sobre meus anos em Montreal tanto com nostalgia, como com arrependimento. Algo vem me incomodando há bastante tempo. Há algo que preciso dizer em voz alta, a todos, antes de partir. Preciso dizer às pessoas o que havia de errado com o ativismo de que participava, e por que o abandonei. Tenho muitas memórias queridas dessa época, mas, em última análise, ela foi o capítulo mais negro da minha vida.
Eu costumava endossar um ramo específico de política predominante na McGill e, mais amplamente, em Montreal. É uma fusão de certo tipo de política anti-opressão e um certo tipo de política radical de esquerda. Esse tipo particular de política começa com boas intenções e causas nobres, mas evolui para um pesadelo. Geralmente, os ativistas são as pessoas mais gentis, mais conscientes que você poderia desejar conhecer. Mas, em certo ponto, perderam o caminho, e sua devoção à justiça social os levou para um caminho sombrio. Depois de ver os dois lados da moeda, acredito que eu possa trazer à luz verdades dolorosas, mas necessárias.
Um aviso importante: apoio com entusiasmo políticas anti-opressão em geral, e só tenho a dizer coisas boas sobre elas. Minha concepção política atual fica no espectro da esquerda, embora não no da esquerda radical. Sou basicamente uma social-democrata que gosta de cooperativas e acredita numa renda básica universal, o chamado “caminho capitalista para o comunismo”. Concordo com muito do que a esquerda radical tem a dizer, mas discordo com muito do que ela tem a dizer. Sou veementemente contrária ao marxismo-leninismo e ao anarquismo social, mas sou simpática ao socialismo de mercado e à democracia direta. Não tenho nenhuma crítica à esquerda radical em geral, pelo menos não aqui, não hoje. O que me sinto no dever de criticar é um fenômeno político muito específico, uma manifestação particular das políticas anti-opressão de esquerda.
Há algo de sombrio e vagamente fanático nesse tipo específico de política. Pensei bastante sobre o que exatamente seria. Reuni quatro características essenciais que a tornam tão preocupante: dogmatismo, pensamento de grupo, mentalidade de cruzada, e anti-intelectualismo. Entrarei em detalhes sobre cada uma delas. O que se segue é tanto uma confissão como uma admoestação. Não irei mencionar um único pecado do qual eu não tenha sido completa e abominavelmente culpada em minha época.
Primeiro, dogmatismo. Uma maneira de definir a diferença entre uma crença comum e uma crença sagrada é que pessoas que têm crenças sagradas acreditam que é moralmente errado da parte de qualquer um questionar essas crenças. Se alguém porventura chega a questionar essas crenças, não está simplesmente sendo burro ou mesmo depravado, mas ativamente violento. Não seria muito diferente de chutarem um cachorrinho. Quando as pessoas possuem crenças sagradas, não há discordância sem animosidade. Partindo dessa mentalidade, pessoas que discordavam de mim não estavam apenas erradas, elas eram também pessoas horríveis. Eu ouvia o que as pessoas diziam com atenção, analisando suas falas à procura de conteúdo "problematizável". Qualquer infração dizia algo ruim sobre seu caráter, e muitas infrações talvez as colocassem na minha lista negra. Chamá-las de “crenças sagradas” é uma forma legal de se colocar. O que quero dizer é que essas ideias são dogmas.
Pensar dessa maneira rapidamente divide o mundo em dois grupos - fiéis e profanos, os justos e os injustos. “Odeio dar rolê com galera que não é desconstruída²”, uma amiga me disse certa vez. Membros do grupo bom são cobrados segundo os mesmos padrões. Cada pequena heresia os afasta cada vez mais do grupo. As pessoas hesitam em afirmar que algo é radical demais por medo de serem vistas como insuficientemente radicais. Da mesma forma, mostrar sua devoção à causa lhe confere respeito. O pensamento grupal se torna o modus operandi. Quando fazia parte de grupos assim, todos pensavam da mesma forma sobre uma gama suspeitosamente ampla de questões. Discordância interna era algo raro. A comunidade insular servia como uma incubadora de ideias irracionais e extremas.
Cheios de si, ativistas nesses círculos organizadores acabavam desenvolvendo uma mentalidade de cruzada: uma soberba moral extrema baseada na convicção de que estão participando do equivalente secular a uma missão divina. Não o fazem para alimentar o próprio ego ou para se promover. Na verdade, eu e muitos dos ativistas que conhecia costumávamos nos denegrir mais do que qualquer coisa. Não o fazíamos por nós, mas pelo trabalho urgentemente necessário que fazíamos, pelas pessoas que tentávamos ajudar. O perigo da mentalidade cruzadística é que ela transforma o mundo numa batalha entre o bem e o mal. Ações que normalmente seriam consideradas extremas e insanas se tornam naturais e esperadas. Na época, não pensava duas vezes em fazer várias coisas que jamais faria hoje.
Há muito o que se admirar nos ativistas de que me tornei amiga. Eles só têm as melhores intenções. São altruístas e dedicados a fazer o que acreditam que é certo, mesmo sob grande auto-sacrifício. Infelizmente, nesse caso, sua consciência os traiu. Minha consciência me traiu. Somente quando me dei permissão de ser egoísta, depois de meses e meses me torturando apesar de estar completamente esgotada, pude atingir a distância crítica necessária para repensar minhas crenças políticas.
O anti-intelectualismo era uma das facetas dessa visão de mundo que nunca consegui engolir.
O anti-intelectualismo foi uma pílula que engoli, mas que se enganchou na minha garganta e que mais tarde me salvaria. Ele se apresenta de várias formas. Ativistas nesses círculos frequentemente expressam desprezo pela teoria porque pensam que questões teóricas são como quebra-cabeças de Sudoku, distantes das verdadeiras problemáticas da vida real. Foi o que levou um dos meus amigos a dizer, com raiva e incredulidade, “A vida das pessoas não é uma questão teórica!”. Essa mesma pessoa havia declarado acreditar em um grande número de teorias sobre a vida das pessoas, o que revela uma coisa importante. Quase tudo o que fazemos depende de uma afirmação teórica ou de outra, que vão de simples a complexas e de implícitas a explícitas. Uma questão teórica é simplesmente uma pergunta geral ou fundamental sobre algo que achamos importante o suficiente para refletir a respeito. Questões teóricas incluem questões éticas, questões de filosofia política, e questões sobre a condição ontológica de gênero, raça e deficiência. No fim das contas, é difícil delinear o limite entre teoria e pensamento em geral. Desdém pelo pensamento é algo grotesco, e ninguém o expressaria se soubesse o que está dizendo.
Especificamente para o espectro da esquerda radical, um problema criado por essa tendência anti-teórica é o exagero de retórica e vociferações, uma constante queixa contra o mundo ou a algum aspecto dele, sem uma alternativa clara, detalhada e concreta. Havia uma desculpa comum para isso. Como um amigo ativista escreveu num email: “A presente organização da sociedade prejudica fatalmente nossa capacidade de imaginar alternativas relevantes. Portanto, propostas construtivas simplesmente levarão à reprodução das relações atuais.” Essa afirmação está amparada numa linguagem teórica, mas é uma justificativa da não teorização de alternativas políticas. Por um longo tempo eu a aceitei. Então, percebi que a mera oposição ao status quo não era o suficiente para nos distinguir dos niilistas. Na indústria de software, um software “hypado” que acaba nunca sendo vendido é chamado de “vapourware”. Devíamos nos atentar para o vapourware político. Se a alternativa de alguém para o status quo é nenhuma, ou pelo menos nada muito específico, então, o que estamos discutindo? Estão propagandeando vapourware político, vendendo algo que nem mesmo existe.
O anti-intelectualismo também aparece em sua força total em posturas anti-opressão. Ele se manifesta na visão de que não só conhecimento sobre o que é opressão, mas também conhecimento sobre todas as questões éticas relacionadas à opressão, são acessíveis apenas através de experiência pessoal. As respostas a essas questões éticas são tratadas como assunto de revelação particular. Já no campo acadêmico da ética, afirmações éticas são julgadas com base na força de seus argumentos, uma forma de revelação pública. Alguns ativistas consideram esta última abordagem inaceitável.
Talvez o princípio mais aceito numa certa versão da política anti-opressão - que de forma alguma é a única versão - é que membros de um grupo oprimido são impassíveis de erro quando falam sobre a opressão enfrentada por seu grupo. Esse princípio vem da regra de ouro de que se deve permitir que grupos marginalizados falem por si próprios. Mas essa regra de ouro é levada a um extremo impraticável.
Deixe-me dar um exemplo. Uma pessoa gay normalmente tem muito mais familiaridade com a homofobia do que uma pessoa hétero. Além disso, uma pessoa gay é mais afetada pelo modo com que a sociedade lida com a homofobia, então sua visão é mais importante. Entretanto, não há nada sobre a condição de ser gay que esclareça uma pessoa gay sobre a ética da orientação sexual.
Tomando um caso brutalmente simples, você não precisa ouvir de uma pessoa gay que homossexualidade é pecado para saber que a homossexualidade se justifica eticamente. Se você é uma pessoa hétero e uma pessoa gay lhe diz que homossexualidade é errado, você pode continuar confiante em seu julgamento de que ela está falando merda. Nessa situação, a pessoa hétero está certa e a pessoa gay está errada quanto a homossexualidade e homofobia. Pessoas gays não têm um acesso especial ao conhecimento ético, em geral ou especificamente sobre orientações sexuais. Pessoas gays de fato tendem a ter um melhor conhecimento ético sobre orientação sexual, mas apenas devido à forma como as circunstâncias das nossas vidas nos levam a refletir sobre o assunto.
Se eu dissesse a mesma coisa sobre outro contexto não tão simples - quando a opinião certa não fosse tão óbvia - eu seria taxativamente condenada. Mas a simplicidade do exemplo não é o que o torna válido. Pessoas que pertencem a grupos oprimidos são apenas pessoas, com pensamentos tão passíveis de falha como os do resto das pessoas. Elas não são oráculos que emitem sabedoria eterna. Ironicamente, esse princípio de infalibilidade, criado para combater a opressão, permitiu a entrada de certo essencialismo. A característica que define a adesão de alguém a um grupo é tratada como uma fonte de conhecimento ético inato. Isso sem entrarmos na questão do problema mais amplo de como se deve decidir quem é a fonte de conhecimento inato. Certamente não alguém que “sabe” de forma inata que homossexualidade é algo nojento e errado, mas por que não o seria, se estamos nos baseando simplesmente numa “revelação privada” ao invés de no critério público?
Considere os “outrokin”³, pessoas que acreditam que são literalmente animais ou criaturas mágicas, e que usam os conceitos e a linguagem das políticas anti-opressão para falar de si mesmos. Não tenho dificuldade em chegar às minhas próprias conclusões acerca da experiência vivida dos outrokin. Ninguém é literalmente uma abelha ou um dragão. Temos que avaliar afirmações sobre opressão com base em mais do que simplesmente o que as pessoas têm a dizer sobre si mesmas. Se eu levasse a ideia de infalibilidade do oprimido a sério, teria que acreditar que dragões existem. É por isso que essa ideia é um guia duvidoso. (Eu já quase espero a resposta “se liga no seu privilégio!”).
É um sinal temeroso quando um movimento político abre mão de métodos e abordagens de obtenção de conhecimento baseados em revelações públicas e, além disso, se torna abertamente hostil a eles. O anti-intelectualismo e uma confiança correspondente em conhecimento inato é uma das marcas registradas de uma seita ou de uma ideologia totalitária.
O anti-intelectualismo era uma das facetas dessa visão de mundo que nunca engoli completamente. Eu era dogmática, caí na armadilha do pensamento de grupo, tinha mentalidade de cruzada, mas nunca fui completamente anti-intelectual. Desde que era criança, a busca por conhecimento parecia ser meu chamado. É parte de quem eu sou. Nunca poderia virar as costas a isso. Pelo menos não completamente. E foi por essa rachadura que a luz adentrou. Meu apreço pela reflexão profunda e pelo pensamento sistemático nunca cessou. Quase por acidente, deixei o ativismo de lado por um tempo. Havia um bom tempo desde que eu havia tido o tempo e a liberdade para simplesmente pensar. No início, puxei alguns fios e, a partir daí, eventualmente a coisa toda se desembaraçou. Lentamente, minha visão política colapsou por si só.
As consequências foram maravilhosas. Um mundo que parecia cinzento e sem esperanças foi preenchido de cor. Não consigo expressar o quanto minha visão de mundo era desoladora. Um amigo ativista certa vez me disse, com total sinceridade, “tudo é problemático”. Esse era o consenso geral. Ainda mais desolador foi algo que eu disse durante uma ligação para um velho amigo que morava em outra cidade, fora do meu mundo político. Eu, como um número desproporcional de pessoas de esquerda, estávamos deprimidos, e gastávamos bastante tempo suspirando no telefone. “Não tenho medo de que você se mate”, ele disse. “Sei que você quer viver pra sempre.” Eu dei uma risada triste e fraca. “Quando eu disse aquilo,” respondi, “estava muito mais feliz do que estou agora.” Abrir mão da minha ideologia política foi extremamente libertador. Me tornei uma pessoa mais feliz. Também acredito que me tornei uma pessoa melhor.
Falei aqui várias coisas negativas. Mas, é claro, meu objetivo aqui é fazer algo positivo. Amaldiçoo a escuridão, esperando ver a luz de um novo dia. Ainda assim, não quero criticar sem oferecer uma alternativa. Então, deixe-me dar alguns conselhos construtivos para qualquer pessoa interessada em qualquer tipo de ativismo de esquerda ou anti-opressão.
Primeiro, escolha a humildade. Talvez você a ache revigorante. Outros a acharão revigorante também. Seja firme, seja apaixonado, mas não fique cheio de si. Não leve tudo às últimas consequências. Se questione tão firmemente como questiona a sociedade.
Em segundo lugar, trate as pessoas como indivíduos. Isto é, não trate cada pessoa que pertence a um grupo oprimido como um porta-voz autorizado daquele grupo como um todo. As pessoas não estão conectadas a um tipo de mente de colmeia. Tratá-las como se estivessem, além de ser essencialista, também leva a contradições, já que, obviamente, nem todas as pessoas concordam sobre tudo. Não existe atalho que lhe permita evitar pensar por si mesmo sobre opressão simplesmente acatando o julgamento dos outros. Você tem que escolher as pessoas em cujo julgamento irá confiar, e isso equivale ao mesmo que julgar por si próprio. Isso lança uma grande responsabilidade sobre você. Pegue o touro pelos chifres. Aceite a responsabilidade e afie seu raciocínio. Note contradições e falácias lógicas. Quando ouvir uma opinião sobre um tipo de opressão de um membro que a experiencia, procure por opiniões contrárias de membros do mesmo grupo e as compare umas com as outras. Não tenha medo de ter insights originais.
Terceiro, tente ser diplomático. Nem tudo é uma guerra do bem contra o mal. Pessoas razoáveis, bem informadas e conscientes muitas vezes discordam sobre questões éticas relevantes. Pessoas terão diferentes concepções acerca do que implica ser anti-opressão, então se acostume com discordâncias. Quando se trata de discordâncias morais, revolta, raiva e uma dose de inquietação são esperados. Eles são parte inerente da discordância moral. É isso o que faz um toque diplomático tão necessário. Do contrário, tudo se transforma numa competição de gritos.
Quarto, parta de uma abordagem sistemática para entender o espectro político. Trate a busca pelo melhor tipo de sociedade como um problema de engenharia. Pense em propostas específicas, concretas. Elas realmente funcionariam? Aprenda a distinguir algo desejável de algo viável. Refine suas categorias para além de dicotomias simples como capitalismo / socialismo ou estatismo / anarquismo.
Não vou permitir que a desilusão com meu ativismo passado me desencoraje de tentar fazer o bem no futuro. Se você se encontrar semelhantemente desiludido, anime-se. Enquanto aprender com seus erros, ninguém poderá lhe culpar por tentar ser uma boa pessoa. Não se preocupe. Todos acabamos tendo uma segunda chance.
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1 - Minor: área secundária de especialização pela qual um estudante pode optar durante a graduação, obtendo-a quando decide cursar disciplinas relacionadas à área. A minor pode ser de uma área totalmente diferente do curso principal, e foi instaurada para estimular a interdisciplinaridade. (N.T)
2 - O termo usado pela autora no original foi “Un-rad”, uma derivação da palavra “radical”, que nos Estados Unidos denomina grupos de esquerda mais ligados a práticas econômicas e estatais tipicamente socialistas. (N.T)
3 - Outrokin: são uma tribo de pessoas reais que não se identificam como inteiramente humanas. Cada indivíduo tem sua própria teoria acerca de como e porque ela é outrokin. A maioria dos outrokin acreditam que são não-humanos num sentido espiritual, ou de outra forma não-física, como devido a reencarnação, disforia trans-espécie, ou de forma metafórica. (N.T) (Traduzido da Nonbinary Wiki Otherkin - Nonbinary Wiki)
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Esse artigo foi publicado sob o pseudônimo “Aurora Dagny”.
Tradução: Yuri Gomes.

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