Quando as coisas estão assustadoras, quando estamos sobrecarregados, quando estamos lutando, é tentador procurar um atalho, uma pílula que o faça se sentir melhor, um programa de TV que o ajude a desligar seu cérebro. Nada torna isso mais claro do que os últimos dois anos dos alarmantes e desestabilizadores eventos globais. As pessoas se voltaram para todos os tipos de soluções mágicas para superar esses dias sombrios, da meditação aos gurus de autoajuda e ao envio de inúmeros tweets e petições para o ciberespaço.
Essas coisas nos ajudam a lidar com o absurdo do mundo ao nosso redor… mas, é claro, apenas temporariamente.
Tim Ferriss e Tyler Cowen conversaram recentemente sobre isso no podcast de Tim. Tim perguntou o que Tyler poderia recomendar - além da sabedoria dos estóicos - que ajudaria as pessoas a encontrar equanimidade e paz em meio à loucura. A resposta de Tyler foi contra-intuitiva, como sempre:
"É como se as pessoas quisessem algum tipo de talismã, quase como um objeto de vudu. Não sei se elas realmente querem ser capazes de tratar isso tudo de modo mais sereno ou se apenas querem o talismã. Sendo assim talvez meu conselho seja que a pessoa reflita: "Você só quer o talismã?"
Essa é uma ótima pergunta para nos fazermos quando estamos lendo, assistindo ao noticiário ou considerando um experimento com a fitoterapia - estamos atrás de um talismã ou da coisa real? Estamos realmente tentando melhorar ou apenas queremos nos sentir melhores por um minuto? Queremos apenas sentir que fizemos algo? Qualquer coisa serve?
Há um tempo e um lugar para ambas as estratégias, mas, é claro, os estóicos preferem se concentrar em fazer o trabalho real - ações, não apenas palavras. Eles não gostariam que você fosse levado pelo escapismo, simplesmente cedendo a algum gesto simbólico para ter consolo. Os estóicos recomendam que você faça o trabalho real e desconfortável - seja em você mesmo ou no mundo ao seu redor.
O treinamento que estamos fazendo não é fácil. Não é uma questão de ler um livro. Não se trata de se inscrever para receber um e-mail ou comprar uma moeda. É um processo contínuo. É se comprometer com o caminho difícil. É se comprometer com um estilo de vida.
É sobre fazer o trabalho. Esta manhã. Esta noite. Amanhã. Neste exato momento.
Ryan Holiday do The Daily Stoic
Originalmente publicado em: https://dailystoic.com/dont-just-settle-for-a-shortcut-do-the-work/
Escultura de Marco Aurélio, antigo Imperador Romano e seguidor da doutrina estoica.
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Genealogia do fanatismo Emil M. Cioran Genealogia do fanatismo Emil M. Cioran
Em si mesma toda ideia é neutra ou deveria sê-lo, mas o homem a anima, projeta nela suas paixões e suas demências; impura, transformada em crença, se insere no tempo, adota a forma de acontecimento: o passo da lógica para a epilepsia está consumado… Assim nascem as ideologias, as doutrinas e as farsas sangrentas. Idólatras por instinto tornam incondicionados os objetos de nossos sonhos e de nossos interesses. A história não é mais do que um desfile de falsos Absolutos, uma sucessão de templos em honra de pretextos, um aviltamento do espírito ante o Improvável. Mesmo quando se afasta da religião, o homem permanece sujeito a ela; consumindo-se em forjar simulacros de deuses, os adota depois febrilmente: sua necessidade de ficção, de mitologia, triunfa sobre a evidência e o ridículo. Sua capacidade de adorar é responsável por todos os seus crimes: ele que ama indevidamente a um deus obriga os outros a amá-lo, planejando exterminá-los se recusam. Não há intolerância, intransigência ideológica ou proselitismo que não revelem o fundo bestial do entusiasmo. Que perca o homem sua faculdade de indiferença: converte-se num potencial assassino; que transforme sua ideia em deus: as consequências são incalculáveis. Nunca se mata tanto quanto se mata em nome de um deus ou de seus sucedâneos: os excessos suscitados pela deusa Razão, pela ideia de nação, de classe ou de raça são semelhantes aos da Inquisição ou da Reforma. As épocas de fervor se sobressaem nas façanhas sanguinárias: Santa Tereza não podia deixar de ser contemporânea dos autos de fé e Lutero da matança dos camponeses. Nas crises místicas, os gemidos das vítimas são paralelos dos gemidos de êxtase… Patíbulos, calabouços e masmorras nunca prosperam tanto quanto à sombra de uma fé, dessa necessidade de crer que tem infestado os espíritos para sempre. O diabo empalidece junto a quem dispõe de uma verdade, de sua verdade. Somos injustos com os Neros ou os Tibérios: eles não inventaram o conceito de herético: não foram senão sonhadores degenerados que se divertiam com as matanças. Os verdadeiros criminosos são os que estabelecem uma ortodoxia sobre o plano religioso ou político, os que distinguem entre o fiel e o cismático. Enquanto nos recusarmos a admitir o caráter intercambiável das ideias, o sangue corre… Debaixo das resoluções firmes se ergue um punhal; os olhos inflamados pressagiam o crime. Jamais o espírito da dúvida, afligido pelo hamletismo, foi pernicioso: o princípio do mal reside na tensão da vontade, na inépcia para o sossego, na megalomania prometeica de uma espécie que reinventa o ideal, que arrebenta debaixo de suas convicções e a qual, por haver-se comprazido em depreciar a dúvida e a preguiça — vícios mais nobres do que todas as virtudes —, se embrenhou num caminho de perdição, na História, nessa mescla indecente de banalidade e apocalipse… Ela está plena de certezas: suprime-as e suprimireis sobretudo as suas consequências: reconstituireis o paraíso. O que é a Queda senão a busca de uma verdade e a certeza de havê-la encontrado, a paixão por um dogma, o estabelecimento de um dogma? Disso resulta o fanatismo — tara capital que dá ao homem o gosto pela eficácia, pela profecia e pelo terror —, lepra lírica que contamina as almas, as submete, as tritura e as exalta.......................… (cioran)