Procure no site:

dezembro 22, 2020

LIBERALISMO NÃO É APENAS LIBERDADE DE ESCOLHA

Não é incoerente ser liberal e defender a vacina obrigatória

[M]esmo que possa ser errada, a finalidade da lei não é abolir ou conter, mas preservar e ampliar a liberdade. Em todas as situações de seres criados aptos à lei, onde não há lei, não há liberdade. A liberdade consiste em não se estar sujeito à restrição e à violência por parte de outras pessoas; o que não pode ocorrer onde não há lei: e não é, como nos foi dito, uma liberdade para todo homem agir como lhe apraz."

John Locke. Segundo Tratado de Governo Civil.

Um erro muito grave que 90% das pessoas cometem em algum momento na hora de falar de liberalismo e liberdade é confundir esses termos com livre-arbítrio. Eu mesmo já cansei de fazer isso.

Liberdade não é apenas fazer o que você quer, e a maioria dos liberais coerentes (a principal exceção talvez seja o grande filósofo de Harvard Robert Nozick, que defendia liberdade quase que unicamente como liberdade de escolha) nunca entendeu que deveríamos julgar se uma pessoa é livre apenas com base no que ela pode ou não fazer. Provavelmente tal erro seria menos claro por aqui se, assim como no inglês, tivéssemos duas palavras, Liberty e Freedom, com significado de Liberdade.

Em muitos casos a liberdade individual ao meu ver pode até ir contra o bem-estar coletivo e utilitarista, mas para tudo há limite. Em outras palavras (aqui não estou opinando sobre esses dois assuntos, e peço para que digressões sobre eles fiquem em outro tópico), ser a favor da liberação das armas e do aborto apenas com base na sua decisão individual pode não ser uma defesa suficiente se não forem analisadas as externalidades.

Liberdade significa ausência de poder e leis arbitrárias advindas tanto do Estado quanto dos demais cidadãos. Num mundo ideal, as pessoas são livres para fazer o que a lei não as proíbe, desde que tal lei não seja arbitrária. O que define se essa lei é arbitrária ou não já é assunto para outro texto. A questão é, o livre-arbítrio é um princípio importantíssimo, mas ele só serve até certo ponto na hora de definirmos liberdade, e como todo princípio ele deve ser limitado em alguns casos.

No caso das vacinas, da quarentena e diversas outras medidas, não há o que se falar em perda de liberdade, pois trata-se de medidas excepcionais que visam justamente salvaguardar os princípios e instituições que permitem a convivência humana. Devemos, é claro, ficar vigilantes. O próprio Hayek dizia que era nos momentos de crise que se criam mais espaço para o poder arbitrário. Mas o argumento de "eu não quero, portanto não vou", defendido especialmente por apoiadores do governo, é tão bom quanto o do "direito" de dirigir bêbado defendido por alguns libertários por aí.

Assine a newsletter e receba os novos textos que publicarmos aqui por e-mail

Deixe seu comentário. Faça parte do debate