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outubro 24, 2020

Poucos países gastam efetivamente menos do que arrecadam. Dentre os que conseguiram tal façanha em 2017 podemos citar, dentre outros, Alemanha, Hong Kong, Nova Zelândia, Noruega, Suíça e ... Suécia.

Sim, o país que boa parte da esquerda brasileira adota como modelo de bem-estar e que libertários juram que vão quebrar por seu seguro social robusto é muito mais responsável fiscalmente do que a esmagadora maioria do mundo. Mesmo neste ano tão difícil o déficit será de “apenas” pouco mais de 5% do PIB. Nem sempre foi assim. Menos de 30 anos atrás o déficit sueco ultrapassou 10% do PIB. A inflação chegou a passar dos dois dígitos em alguns anos das décadas de 70 e 80. A Coroa Sueca perdeu 60% do seu valor nos no mesmo período. O que fez o governo sueco chefiado pelo social-democrata Ingvar Carlsson? Dentre outras ações, uma que é fundamental para a manutenção de serviços públicos “gratuitos” e de qualidade: a adoção de um regime fiscal rígido, que determinava um superávit fiscal de 1%, infinitamente mais pesado que o que no Brasil teve gente chamando de “PEC da Morte”. Tal meta foi, como diria uma certa ex-presidente “dobrada” e os suecos economizaram 2% do PIB na maior parte dos anos 2000.

Foi doloroso: Centenas de milhares de empregos de uma população relativamente pequena foram perdidos com o aperto do crédito e a adoção do câmbio flutuante. As reformas mais duras nos serviços sociais foram na previdência e o valor nominal das aposentadorias chegou a cair em alguns anos (isto é, você poderia receber 1000 em um ano e 900 no outro), algo impensável nas terras tupiniquins. Mas o governo seguiu fazendo seu trabalho apesar dos protestos e, com isto, também conseguiu manter boa parte de sua exemplar cobertura social, e permitiu que a economia sueca crescesse ainda mais que a dos seus vizinhos na maior parte do período subsequente.

O governo sueco gastou mais do que arrecadou em apenas 7 dos últimos 20 anos, mantendo sua dívida há mais de 15 anos com uma nota de crédito AAA, feito superado apenas por Suíça, Noruega, Singapura, Dinamarca e Canadá. O modelo sueco de bem-estar é evidentemente inaplicável no Brasil por n motivos. Mas mostra que social-democracia, seguro social e serviços estatais de qualidade não dependem apenas de vontade política e para serem sustentáveis necessitam de equilíbrio fiscal.

Fontes:

An account of fiscal and monetary policy in the 1990s

Lessons for today from Sweden's crisis in the 1990s

Sweden - budget balance in relation to GDP 2026 | Statista

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One comment on “Como o ajuste fiscal salvou os serviços públicos suecos do colapso”

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