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setembro 29, 2020

Os conservadores têm um ponto: o de que a nossa sociedade é complexa e as bases que a mantém são muitas vezes incompreensíveis, de modo que querer mudá-la a partir de ideias e ideais abstratos pode gerar consequências imprevisíveis e indesejáveis. Por isso a manutenção da ordem e do status quo são desejáveis.

Ocorre que os revolucionários também têm um ponto, ao afirmar que muitas dessas bases que mantêm a sociedade são opressivas e injustas, e portanto a derrubada dessas bases se faz necessária o quanto antes.

Se ambos têm um ponto, qual caminho seguir? Creio que o caminho mais adequado seja aquele da mudança gradual e baseada em evidências. Esse caminho satisfaz parte de ambas as ideologias: não muda radicalmente a sociedade, de modo que os pilares da mesma permanecem, satisfazendo os conservadores; mas também muda aquilo que se manifesta como opressor e injusto, satisfazendo os revolucionários. Claro que nenhum adepto das duas ideologias ficará totalmente satisfeito com esse arranjo.

Às vezes os revolucionários têm mais razão: a escravidão era algo totalmente abominável e a sua extinção imediata, e não gradual, era o único caminho aceitável.

Às vezes os conservadores têm mais razão: a tentativa de mudança radical do sistema econômico de mercado para o sistema econômico comunista empreendida por alguns radicais se mostrou algo totalmente catastrófico.

Esse caminho que eu proponho, o da mudança gradual e baseada em evidências, é mais ou menos o caminho seguido pelos países desenvolvidos. A taxação progressiva de imposto para bancar serviços sociais foi algo implantado nos países desenvolvidos de forma gradual. A legalização do casamento gay também foi gradual: primeiro acabou-se com a proibição da homossexualidade (apesar da perseguição só terminar muito tempo depois), e assim foi indo até chegar o momento atual em que os gays nos países desenvolvidos têm os mesmos direitos que os casais héteros. Para os direitos das mulheres, algo similar ocorreu: primeiro o direito ao voto, depois à separação, depois a normalização do trabalho no mercado, etc, etc.

O mundo não acabou, como muitos conservadores (talvez, neste caso, mais próximos a reacionários...) suporiam, com a taxação progressiva, com a afirmação dos direitos LGBT, das mulheres e demais minorias, com a legalização do aborto, etc. Pelo contrário, só melhorou.

Por isso, meus caros, sou adepto da teoria gradualista-racionalista da mudança social: gradualista, pois gradual; racionalista, pois baseada em evidências.

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