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setembro 28, 2020

É terrivelmente difícil explicar para as pessoas o quão irracional é entregar ao Estado o papel de coordenar investimentos em grande escala porque, em geral, elas não entendem o conceito de custos de oportunidade. Quando um desenvolvimentista diz que vai usar nossa quantidade limitada de poupança pra desenvolver setor X, Y e Z, não fica claro para a maioria das pessoas que todo o recurso envolvido neste empreendimento seria usado, em uma situação de mercado, para expandir a produção em uma infinidade de outros setores. Elas percebem o que a sociedade ganha, mas não percebem que isso representa um custo em termos do que a sociedade deixa de ganhar.

O mercado, tido como os milhões de indivíduos dispostos a poupar e investir, tem muito mais informação disponível na hora de escolher os setores mais lucrativos para expandir a produção do que qualquer burocrata bem intencionado. O lucro operacional de uma firma também é o valor adicionado pela mesma. No geral, o mercado tende a acertar muito mais na hora de alocar investimento. Isso não significa que ele sempre acerte ou que todo investimento público seja condenável. Longe disso. Em alguns casos, o sistema de preços não consegue capturar todos os benefícios dada a existência de externalidades, como por exemplo em educação, inovação, saneamento, etc, ou em situações em que o retorno é de muito longo prazo.

Nos casos em que uma abordagem microeconômica tradicional consegue demostrar alguma disfuncionalidade no sistema de preço em uma área específica, o investimento público pode ser justificado, tendo-se em mente que o governo também tem as suas disfuncionalidades. O governo agiria, portanto, auxiliando a economia de mercado onde ela não funciona direito. Isso é muito diferente de querer um Estado empresário deliberando onde deve ser investido ou não. Um Estado que “lidere o desenvolvimento”.

O burocrata bem intencionado (ou a equipe de burocratas), por mais inteligente que seja, simplesmente não tem informação disponível para arbitrar este tipo de coisa em larga escala. Este é o ponto.

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2 comments on “Como o mercado e o Estado alocam investimentos”

  1. Parabéns pelo texto. Antigamente eu tinha uma cabeça desenvolvimentista e simpatizava muito mais idéia do Estado Empresário. Textos como esse ajudam a enxergar melhor as coisas.

    Só uma dúvida, lendo o trecho:
    "alguns casos, o sistema de preços não consegue capturar todos os benefícios dada a existência de externalidades, como por exemplo em educação, inovação, saneamento, etc, ou em situações em que o retorno é de muito longo prazo.
    O governo agiria, portanto, auxiliando a economia de mercado onde ela não funciona direito."

    Poderiam dar mais exemplos de situações que o mercado não capta totalmente os benefícios de um investimento, sendo necessário atuação do setor público?

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