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setembro 28, 2020

Uma das maiores besteiras propagadas pelo Ciro Gomes é sobre as “condições de empreender”. O argumento é: Não temos crédito barato, escala e tecnologia para competir com os importados. Isso significa que em uma situação de livre mercado, a economia interna seria destroçada. Por isso, segundo ele, é que precisamos de “mediações nacionais” (bom e velho protecionismo).

Este argumento de cara não faz o menor sentido. Primeiro: Os produtos brasileiros custam em real e os estrangeiros em suas respectivas moedas. É impossível dizer que somos mais ou menos competitivos sem ter como referência uma taxa de câmbio. Um país pode ter menos crédito, tecnologia e escala que outro mas ser mais competitivo em determinada indústria no comércio global se sua taxa de câmbio estiver em determinado patamar. A produtividade absoluta, ou a vantagem absoluta, não importa. Desde o século XIX nós sabemos que o que conta mesmo são as vantagens comparativas. Então o ponto óbvio é: Na ausência de “mediações nacionais”, a taxa de câmbio se encarrega de nivelar o comércio global.

Pense na situação em que o Brasil e China estão em união aduaneira e a taxa de câmbio corrente favorece os produtos chineses. Haverá, no Brasil, mais demanda pra comprar da China do que na China para comprar do Brasil. Isso significa que haverá mais gente querendo trocar real por yuan do que yuan por real. Nessa situação, os que querem adquirir yuan precisarão pagar mais caro. Ou seja, o preço do yuan sobe em relação ao real até que a demanda no Brasil por produtos chineses se iguale a demanda na China por produtos brasileiros. No fim do dia, a taxa de câmbio vai pro lugar certo: Não tem mistério, oferta e demanda.

Isso considerando apenas o fluxo de mercadorias. Se adicionarmos o fluxo de capital, os chineses podem demandar real não para comprar do Brasil mas para investir no Brasil. Ou seja, o déficit comercial existirá, mas será igual ao investimento estrangeiro daquele país no nosso, como prevê os manuais de economia (S-I=NX).

No final das contas, a nossa “competitividade externa” depende apenas da nossa taxa de poupança. Se queremos exportar mais do que importar, devemos poupar mais do que investir e vice versa. Para um país pobre como o Brasil, não é um mau negócio receber investimento estrangeiro. Todo país que já foi subdesenvolvido, aliás, teve déficit em transações correntes durante boa parte do desenvolvimento. Intermediações nacionais e quaisquer políticas comerciais atuam, portanto, ajudando setores específicos às custas dos demais. Elas não “protegerem a economia”, protegem os setores amigos do governo em detrimento de outros e em detrimento da renda das famílias.

É de extrema importância desmistificar tal visão equivocada do comércio exterior. Este diagnóstico errado, por diversas vezes na nossa história, motivou estratégias falhas de desenvolvimento, todas de caráter protecionista e interventor. Não podemos continuar no mesmo misticismo besta. Já deu.

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2 comments on “Ciro Gomes e as “condições de empreender””

  1. Ótima análise, pra ficar melhor você poderia citar as fontes. Se possível gostaria de uma post assim sobre a Mariana Mazzucato, pra ver se ela comete os mesmos erros do Ciro ou se ela tem um discurso mais cientifico. Valeu

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