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setembro 18, 2020

Vamos falar um pouquinho sobre como as universidades públicas promovem a concentração de renda e a desigualdade no Brasil?

À parte as políticas afirmativas que foram empreendidas desde o começo dos anos 2000, foi possível notar um incremento no nível de acesso de jovens aos cursos superiores. Isso foi muito bom!

Porém, o perfil da concentração de renda não mudou muito. Na verdade, não mudou nada.

Sabem por quê?

Bom, primeiro por que as universidades públicas tem um bônus especial que as universidades privadas não tem, que se caracteriza no processo seletivo.

Por conta do subsídio e investimento público contínuo, alunos de escolas particulares que receberam melhor educação e preparo preferem as universidades públicas, enquanto os alunos de baixa renda, ou se valem de uma excepcionalidade acadêmica (muito raro), ou se valem de políticas afirmativas para ingressar no curso superior, ou vão as universidades particulares.

Até aí nada de novo. Só essa relação já caracteriza a disfuncionalidade do nosso modelo público de ensino superior. Porém, tem mais!

Quando um aluno de baixa renda e que sempre estudou em escola pública consegue entrar na universidade pública, que curso você acha que ele pega? Os cursos de alta demanda profissional e concentração de renda? Não. Por conta do altíssimo número de candidatos por vaga, é muito difícil que jovens que tiveram acesso a um sistema educacional deficitário consigam ingressar nos cursos de altos retornos salariais, como: medicina, engenharias, economia, direito, etc.

Há uma série de relatórios comparando a situação socioeconômica dos alunos por curso, dentro das universidades públicas.

O padrão de alunos de cursos de alto rendimento após a graduação teve pouca ou nenhuma variação.

E as políticas afirmativas? Para onde os pobres estão indo? Para cursos mais acessíveis e voltados ao confronto direto da opressão e desigualdades sociais, oras! Tais como geografia, história, letras, filosofia, etc.

E quando alguém consegue ser tão excepcional a ponto de passar em um curso de alto retorno financeiro, tipo a POLI-USP?

Bom, aí nós nos deparamos com o terceiro problema nesse cenário, que é o fato de que os próprios departamentos desses cursos não tem real interesse em se diversificar muito, alterando o seu status quo.

Afinal, se fizessem isso, teriam que perder alunos de alto desempenho para um aluno de baixa renda, com conteúdo educacional provavelmente deficitário, e que teria muito mais chances de abandonar os estudos e afetar o quociente de desempenho do curso no fim do ano letivo.

E como eles fazem para desincentivar os jovens a tentarem o ingresso nesses cursos sem vedar completamente e serem taxados de “anti-inclusão”?

Eles criam cenários como esse na imagem.

Esse cenário é vergonhoso. Nosso modelo universitário é vergonhoso.

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Publicado originalmente em 26 de junho de 2020 aqui.

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